Nota introdutória: antes de mandar este texto, o meu maior medo foi justamente o de as pessoas que subscreveram irem embora por eu estar enchendo a caixa delas com os meus devaneios. E que coerente (#kkkryyinnng) com todo o resto do texto que escrevi há alguns anos, postei há alguns meses, e revisei ontem neste processo terapêutico…
Enfim, te convido a ficar e pular se achar demais, ou guardar para reler em algum momento em que você também se depare cotidianamente com o medo de não agradar!
Reencontrei este texto fuçando nas minhas reflexões, para enviar à psicóloga nova. Ela me disse que eu poderia mandar alguns textos meus para ela ir me conhecendo e que tudo ajudaria no processo terapêutico. Quando eu vi, tinha enviado 250 mensagens e fiquei com medo dela desistir de mim.
Como é louco passar pela vida sendo ao mesmo tempo uma pessoa conhecida por sua coragem, destemida (de verdade sou!) e com esse medo contínuo que me acompanha aqui dentro de desagradar, de decepcionar, de não ser amada.

Este texto, eu escrevi lá pelos idos de 2019, mas revisitei e publiquei em maio deste ano. Ele tem movido boa parte das minhas reflexões deste ano, pois foi o ano em que fui do céu ao inferno profissional, na velocidade de uma descida de montanha russa, mas sem o frio na barriga, apenas pânico mesmo.
Passei de alguém considerada “um grande talento da organização” e uma liderança relevante, para persona non grata, perseguida diretamente pelo CEO e parte da diretoria e por outras pessoas de forma mais sutil e sorrateira ainda, mas que não vou citar nominalmente para não me comprometer mais ainda (#cofpresidentecofdoca#cof).
Foi o ano em que sinto que falhei com todo mundo, mesmo tentando, mais do que nunca, acertar com todo mundo. No final das contas, o que mais me consola (que doido!) é que a pessoa com quem mais falhei fui eu mesma.
Falhei ao me deixar contagiar pelas opiniões tóxicas e totalmente injustas de assediadores sobre mim. Falhei ao não me proteger adequadamente ao longo dos anos. Ao me expor demais, ao me defender de menos. Falhei ao levar meu corpo e minha mente à exaustão e ao colocar todo o resto em segundo plano para me dedicar a manter a minha imagem profissional e mesmo assim falhar e assistir - em câmera lenta - uma após a outra, inúmeras pessoas “soltarem minha mão” quando meu crachá não tinha mais peso e estar comigo, ao meu lado, ou ser minha amiga publicamente se tornou um “risco reputacional” para elas mesmas com aqueles que me perseguiam.
É importante dizer que eu não falhei por completo em um sentido… mas isso é papo para outro dia…
Se ao final da leitura, achar que esta é uma conversa que faz sentido para você, vou amar conversar sobre. <3
Do que você mais tem medo?” ela me perguntou enquanto eu segurava um café ruim e excessivamente doce, com as pernas balançando nervosas…
Fiquei alguns longos minutos pensando se eu dava a resposta sincera.
Eu já imaginava que pareceria esquisito diante do que tinha me levado até ali e me colocado na frente desta mulher que não parecia lá muito interessada realmente na minha resposta.
Bom, eu poderia dizer que tinha medo do escuro.
Ou do barulho da porta de madrugada que em geral anunciava a desgraça e a dor. Primeiro a da sala. Depois a do meu quarto.
Eu tinha mesmo medo, muito medo, da minha mãe cansar de nós e nos deixar. Sempre achei que eu era a grande razão de todas as grandes e horríveis tragedias que aconteceram com ela.
Eu tinha relativo medo de Deus e do juizo final e de como ele me julgaria por todos os pensamentos horríveis que eu tinha e não podia contar a ninguém. Mas no fundo eu nem tinha certeza se acreditava mesmo que ele existisse. Tinha também um pouco de medo de que ele fosse mesmo real…
Nada disso, porém, me veio à mente na hora em que pulou da minha boca aquilo que me custou tanto a colocar em palavras: “de ser uma enorme decepção!”
Eu tinha uns 16 anos.
Havia acabado de sobreviver ao último (e mais grave) atentado à minha própria vida e estava fazendo terapia obrigada pelo Estado.
Ela me olhou com uma cara curiosa. Pareceu mesmo não esperar esta resposta.
“Me fala mais… de onde você acha que vem este medo? Você parece ser o tipo de pessoa que eu definiria de muitas formas, menos de decepção. A maioria dos pais, adoraria ter uma filha como você!”
“Pois é, acabei de te decepcionar”… pensei e sorri de canto de lábio.
“Não sei…” respondi, já sem intenção ou interesse em seguir nesta conversa.
Nunca mais voltei.
Como eu desconfiava, o Estado não veio atrás de mim e eu segui a vida tropeçando em mim mesma e nos meus medos de menina ferida.
O que eu queria ter respondido para essa psicóloga quase 25 anos atrás, me voltou na ponta da língua dia desses quando me perguntaram porque eu achava que “era tão difícil me amar”.
Lembrei do vídeo do Jim Carey (#entendedoresentenderao): o que bastará? O que irá preencher o vazio de achar que para ser amada preciso “perfomar” em todos os campos da minha vida?
O que vem depois de dar a volta por cima múltiplas vezes, de sobreviver às estatísticas e a diferentes tipos de abandono? Não será suficiente ser a melhor aluna, a que trabalha 15 horas por dia, de preferência sem perder o bom humor? O que vem depois do doutorado lá na puta que o pariu e que certamente ficará meia boca? O que eu ainda preciso provar? Para quem? O que é que eu ainda deveria para não decepcionar as pessoas ao meu redor?
E como lidar quando mesmo seguindo “o script” que me passaram, alguns simplesmente mentem, inventam histórias sobre você, te machucam por nada?
Ser a boa garota não adiantou muito.
A moça na minha frente estava mesmo esperando a resposta.
“Porque quando as pessoas me conhecem ou me amam e acham que sou WOW ou me acham chata e arrogante. Em ambos os casos estão fadadas a se decepcionarem. Não sou nem uma, nem outra”. “Depois que você me conhece é só ladeira abaixo”, brinquei rindo para quebrar o clima que pesou.
Ela fez a cara de decepção de quem se deparava com a constatação de que “o mulherão” que ela imaginava tão “segura e autoconfiante” era, na verdade uma menina carente e insegura.
E se você chegou até aqui esperando um plot twist e uma mensagem motivacional, sinto informar…
É… pelo menos eu estava certa… mais uma vez… 😉
Nota1: criei este espaço para trocas e conversas genuínas. Vou adorar ler suas impressões e bater um papo sobre este processo!
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Nota3: não prometo frequência, caracteres limitados, coerência no conteúdo e nada mais além do meu coração todinho aqui nestas palavras que escorrem.